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Militares, heróis ou vilões?

Enquanto não for possível uma humanidade sem bombas e tiros, haverá militares. E eles não serão mocinhos nem vilões salvo exceções que existem em qualquer outra atividade.

08/10/2021 às 12h11 Atualizada em 08/10/2021 às 12h16
Por: Carlos Nascimento Fonte: capitalpolitico.com/
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Militares, heróis ou vilões?

Sem dúvida, a estrutura de defesa é um dos entes do Estado cujo papel e custo causam maior polêmica. Para que servem militares em tempos de paz? Quanto custa uma tropa ociosa? Por que militares se envolvem com a política? Na hora H, os militares são realmente os mocinhos? Os sistemas de defesa protegem quem contra quem?

No fim das contas, não se pode negar que, no mundo civilizado em que vivemos há milhares de anos, forças armadas funcionam como uma espécie de seguro de vida, ou de plano de saúde. É aquele tipo de despesa que a sociedade paga esperando não usar.

A diferença, no caso dos militares, é que sua simples existência já reduz muito a necessidade da sua utilização. É o que se chama de poder dissuasório. Ou seja, quanto melhor for a defesa de um país, menor será a disposição de seus competidores em tentarem lhe impor interesses.

Em um mundo ideal, não seria necessário despejar centenas de bilhões de dólares anualmente na fabricação de bugigangas destinadas a destruir vidas, infraestrutura, serviços públicos, propriedades e o meio ambiente.

Na maioria das vezes, grande parte dos combatentes sequer tem consciência clara dos propósitos reais que os levam aos cenários de guerra. Um episódio chamado Trégua de Natal, ocorrido durante a I Guerra Mundial, ilustra esse pensamento.

Naquele inverno de 1914, soldados inimigos (alemães de um lado, franceses e ingleses de outro) entrincheirados na Bélgica decretaram uma ligeira trégua, para poderem confraternizar, trocar comida e charutos, como se fossem, por um momento, parte de uma mesma nação. No dia seguinte, retomaram os confrontos.

Pessoalmente, não creio que um jovem ingresse em uma academia militar pensando em se tornar ministro ou presidente quando galgar o posto de general (o que demora uns 30 anos, se chegar a acontecer).

Tampouco se pode dizer que militares tenham natureza golpista, ou sejam portadores de algum gene de direita. Basta observar que nos golpes de Estado há militares contrários ao movimento, assim como centenas de militares alemães foram sumariamente assassinados pelo regime nazista. Por outro lado, é fácil constatar que governos de esquerda também têm forças armadas.

Não diria também que militares sejam violentos por natureza, bastando ver as operações de salvamento e apoio a populações em situação de privação, isolamento ou catástrofe.

Desde os primeiros grupamentos militares orgânicos, registrados a quase três mil anos onde viria a ser a Mesopotâmia, forças armadas servem à forma de Estado vigente no seu tempo e lugar. Portanto, cabe perguntar, na verdade, a quem o Estado serve?

Ou seja, quando centenas de milhares de jovens são enviados a campos de batalha por um governo de ocasião, quem ganhará de fato com isso? Com certeza não serão os soldados mutilados e traumatizados.

A pergunta vale igualmente para quando forças armadas são jogadas nas ruas contra seus conterrâneos. Quem deu a ordem e quem vai lucrar?

Enquanto não acreditarmos que seja possível alcançar uma humanidade sem bombas e tiros, haverá militares. E eles não serão mocinhos nem vilões por definição, salvo alguns indivíduos ‘fora da curva’, o que pode acontecer em qualquer outra atividade.

Assim como ocorre em outras carreiras, deverão se qualificar para exercê-la de modo científico e responsável. Quando quiserem trocar de profissão, tornarem-se empresários, gestores públicos ou políticos deixarão a vida militar, para correrem riscos e empreenderem, como é normal em outros ramos.

Felipe Sampaio é co-fundador e colaborador do Centro Soberania e Clima (CSC); ex- secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife (2019-2020); chefe da assessoria de relações institucionais do Ministro da Segurança Pública (2018); chefe da assessoria de projetos do Ministro da Defesa (2016 - 2018); assessor especial do Ministro da Reforma Agrária no governo Fernando Henrique Cardoso; consultor em desenvolvimento sustentável e regional em programas governamentais e multilaterais; trabalhou em Ongs e grandes empresas; palestrante e autor de publicações no Brasil e no exterior.

Contato: felipesampaio.br@gmail.com

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