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FOTOGRAFIAS RECORTADAS EM JORNAIS DE FOLHAS, AMIÚDE...

Os profissionais já não são mais os mesmos, isto serve para qualquer setor, seja na medicina, na educação, na justiça, na polícia, geral. O ser humano perdeu a blandícia em exercer a sua atividade, hoje visam apenas o salário, a individualidade, o egoísmo, etc.

01/02/2024 às 22h26
Por: Carlos Nascimento
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FOTOGRAFIAS RECORTADAS EM JORNAIS DE FOLHAS, AMIÚDE...

A gente pensa que o tempo não passa, mas como dizia o poeta Fernando Pessoa: "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido".

Lembro como hoje dos conselhos do meu saudoso pai, o qual como bom militar da reserva dizia: "Nunca gaste como coronel, se você é um soldado", dentre tantos outros bons ensinamentos que me foram passados. Na minha infância, e acredito como da grande maioria das pessoas, tendenciamos a buscar as nossas próprias concepções de vida, mas a grande diferença, sem querer ser saudosista, era que naquela época, década de 60/70, nós éramos cercados de bons amigos, de crianças realmente inocentes, pouco havia descriminação por questões financeiras, raciais, ou qualquer outra, como diz o ditado, era tudo junto e misturado. Não lembro de ter ouvido falar de que qualquer um dos meus amigos de infância que tenha delinquido, seja no crime ou nas drogas, lógico que já havia, mas não fazia parte do nosso convívio.

O tempo de adolescência me foi marcado pelo tempo de caserna, onde aprendi, mesmo na marra, a cumprir horários, a me disciplinar, a entender o verdadeiro sentido que é companheirismo, pois nunca o militar deixa o seu companheiro na mão, pode estar ferido, porém, leva-o carregado, jamais fica para trás, sem dúvidas este para mim foi o maior ensinamento que tive na minha passagem pelo quartel. Até hoje tenho veteranos amigos que serviram comigo e que são amigos, os "velhos combatentes", como costumamos chamar mutualmente.

Após a minha saída das forças armadas, tive algumas experiências em empresas privadas, ressalto a majestosa Mesbla Veículos, que funcionava na cidade baixa, próximo ao largo de Roma. Naquela época carro só era vendido para rico, os "nossos"; Del Rey, Escort Conversível, estes nem é bom falar, só quem tinha eram bem poucos, visto o seu elevado valor.

Certo dia no ano de 1987, um amigo que era policial civil, formado em inglês e biologia, hoje é Perito Policial aposentado, me alertou sobre o concurso da policial civil da Bahia, para investigador. Mesmo sem entender nada sobre o assunto, fui incentivado por este amigo a me inscrever, dizia ele para o meu convencimento, que era um emprego garantido, que se fosse em um regime monárquico, que uma vez aprovado, era como tivesse trabalhando para o rei.

Nunca esqueço desta frase que ele me disse. Pois bem, fiz o concurso, passei e entrei na academia de Polícia Civil para ser Investigador, em 1988, mais precisamente em 13 de junho de 1988 fui nomeado. De início, por opção, fui para Periperi na 5ª Delegacia, onde fiquei por quase três anos, depois passei em várias unidades policiais, onde conheci muitos colegas, alguns já faleceram, outros saíram da polícia, e outros, como eu, alcançaram a aposentadoria.

Foi um trajeto onde, desde o início, havia para mim a dificuldade de entender como que uma profissão que requer o espirito de companheirismo para que nós sobrevivêssemos, tinha, no entanto, um coletivo desunido, fragmentado, onde o interesse de cada um parecia que sobrepujava ao bem comum. Isto sem dizer as condições onde sempre foram precárias para exercer as nossas atividades, as armas que nos eram cargueadas em uma casa que se localizava no bairro do Tororó, próximo ao fórum Rui Barbosa, era até motivo de gozação entre os policiais, era uns trinta e oito "canela-seca", uns trinta e dois caindo de enferrujado, era, na verdade, um "passaporte para o inferno", quem foi daquela época sabe muito bem o que estou falando.

Interessante que com todas as dificuldades, com tantas limitações e com as péssimas condições de trabalho, nós conseguimos estar sempre a frente do crime, nós éramos verdadeiros heróis, fazíamos milagres. Vejo que a grande diferença daqueles policiais para os de hoje, era que havia amor pelo que fazíamos. Havia também a forma de trabalhar, que era, por assim dizer, bem típica do profissional de investigação, tínhamos informante, não tínhamos que cumprir horário, o que interessava era alcançar o objetivo, ou seja, prender um meliante, ou elucidar um crime, sem alarde, sem publicidade e com a maior descrição possível, totalmente diferente de como ocorre hoje em dia, com espetáculos de fardas e vestimentas ridículas, com entrevistas recheadas de nomes científicos, referência a "alvos", operações com nomes inspirados na filosofia grega, uma verdadeira palhaçada, patuscada, ou qualquer outra nomenclatura que queiram dar a esta tragicomédia.

O bandido não mudou, continua o mesmo, a atividade do bandido não mudou, continua a mesma, roubar. O traficante, da mesma forma, continua como antigamente fazendo a mesma atividade que outrora fazia, vender drogas. A questão é: o que então mudou? Por que o crime cresceu tanto em relação, e em comparação a polícia? É lamentável responder, mas é inevitável reconhecer que o crime "evoluiu", já a polícia... Lembram quando citei, quando ingressei na polícia civil em 1988, e de logo notei a falta de companheirismo? Até hoje é assim, antes nós tínhamos o prazer de exercer nossas atividades, éramos verdadeiros abnegados em busca de uma segurança pública de qualidade, não tínhamos hora nem lugar para atuar e defender algo ou alguém que estivesse sendo ameaçado, independente de sabermos que como até hoje, existia um órgão correcional que muitas vezes não respeita o servidor, ao contraditório, a ampla defesa, invertiam o princípio constitucional do "in dubio pro réu", ao ser ouvido o policial já chega com a estigma de "é culpado, até que prove o contrário". Realmente é muito difícil sobreviver em um ambiente de trabalho assim.

Os profissionais já não são mais os mesmos, isto serve para qualquer setor, seja na medicina, na educação, na justiça, na polícia, geral. O ser humano perdeu a blandícia em exercer a sua atividade, hoje visam apenas o salário, a individualidade, o egoísmo, está a cada dia mais pujante, mais ostensivo, e indubitavelmente as atividades que necessitam de união, de solidariedade, estão seriamente comprometidas, visto que assim como um time de futebol que perde dois ou três atletas e disputa uma partida com um adversário que joga com o time completo, a tendência de perder o jogo é grande. Assim faço a analogia da polícia, a qual insiste em exercer a individualidade contra o crime organizado, e o fazem muitas vezes buscando tão somente por projeção, por vaidade.

Vejo cenas como um déjà-vu, e como em um sonho, ou em um pesadelo, temos a necessidade de falar, de alertar, porém, nunca somos ouvidos. A certeza que nos resta é em saber que um dia, assim como bem disse o sociólogo Émile Durkheim; "A instituição é o conjunto de regras e artifícios uniformizados socialmente para conservar a organização do grupo e, por isso, são tradicionalistas por essência". Afaste-se do problema e observe à parte, assim como um técnico de futebol, você está no jogo, mas não está necessariamente jogando, está observando, isto com certeza e sem dúvidas, irá fazer você enxergar e entender melhor o problema.

Bel Luiz Carlos Ferreira de Souza - Brasileiro, baiano, casado, 61 anos, servidor público aposentado pelo estado da Bahia, atualmente reside no estado do Rio Grande do Sul, com formação técnica em redator auxiliar, acadêmico em História, Direito, pós-graduado em Ciências Criminais, política e estratégia e mestrando em políticas públicas.

Contato: lcfsferreira@gmail.com 

https://www.facebook.com/LcfsFerreira

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Bel LUIZ CARLOS FERREIRA
Sobre o blog/coluna
Bel Luiz Carlos Ferreira de Souza- Brasileiro, baiano, casado, 61 anos, servidor público aposentado pelo estado da Bahia, torcedor do vitória, atualmente reside no estado do Rio Grande do Sul, com formação técnica em redator auxiliar, acadêmica em História, Direito, pós graduado em Ciências Criminais, política e estratégia e mestrando em políticas públicas.
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