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O CABARÉ DA MARIA DA VOVÓ: Como era a noite, e os puteiros de Salvador por volta 1966 à 1976.

LÁ SE FOI UMA PORRADA DE TEMPO: “Maria da vovó foi uma das primeiras cafetinas que fomentou a pratica do michê completo criando a sua tabela de preços e obrigando todas suas meninas fazer tudo para agradar o cliente.”

21/12/2023 às 19h13 Atualizada em 23/12/2023 às 08h34
Por: Carlos Nascimento Fonte: Autor: Tom
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O CABARÉ DA MARIA DA VOVÓ: Como era a noite, e os puteiros de Salvador por volta 1966 à 1976.

Esse texto é de autoria de Tom, e foi enviado para publicação por Luiz Ferreira, amigo do autor. Achei simplesmente maravilhoso, retratando a vida boemia na Bahia dos anos 1966 à 1976. Você vai dar muitas gargalhadas, lhe garanto... (Luiz Carlos Ferreira Souza)

Proprietária de um dos mais famosos bregas de Salvador, Maria da Vovó foi criada por sua avó; por isso o nome “da Vovó”, nasceu em Rio do Braço, no município de Ilhéus, em 06 de janeiro de 1933, e chegou a Salvador aos 22 anos. Na capital baiana, conseguiu trabalho no antigo Rumba Dancing, como dançarina, e depois no Tabaris Night Club. Era alta, para os padrões da época, com cerca de 1,70m. Uma morena clara, descendente de árabes, de olhos castanhos e cabelos lisos, era muito bonita.

Cansada de trabalhar para os outros e de dançar por uns trocados, fundou o próprio negócio, em 1955, abrindo sua primeira boate, uma casinha que ficava na Rua da Oração, 26. As coisas iam bem, nessa época, já contava com 60 garotas cadastradas, vindas de toda a Bahia e do Brasil. Fazia fama e dinheiro. Adorava roupas, perfumes, e chegava a gastar uma verdadeira fortuna com produtos de beleza.

Um dia, num desses acasos da vida, comprou uma briga com Luis Arthur de Carvalho, Secretário de Segurança Pública na época, que mandou fechar o seu estabelecimento. Com a firmeza característica das mulheres de capricórnio e das verdadeiras putas, mudou-se com suas meninas para a Gameleira e montou a nova base numa das descidas da Ladeira da Montanha.

Passado um ano e meio, mudou-se novamente para o Largo da Ajuda, onde funcionou no primeiro andar de um sobrado velho. Dois anos depois, retornou à Rua da Oração, onde ficou até 1978 – ano em que se matou por amor.

Não foram poucos os amantes de Maria da Vovó. O primeiro que se tem notícia foi o dono do Varandá, Sandoval, que depois ficou conhecido como “O Rei da Noite”. Sandoval, contam as más línguas, era viado. E, e como não “dava no couro”, foi substituído por um espanhol mascateiro do bairro da Saúde. Esse, por sua vez, foi substituído pelo Delegado Elísio Medeiros, que depois foi trocado pelo Agente de Polícia Astor Ventura, que também foi mandado às cucuias.

Um dia, ao retornar com o cunhado, em 1965, de uma viagem que fizera a Ilhéus, num Maverick azul, sentiu que algo lhe apertava o peito. A paixão proibida. Até porque quem estava ali era o esposo de sua irmã, a qual tanto amava e havia criado, do mesmo modo que mandara educar as outras cinco. Ao chegarem a Salvador, Maria pediu ao cunhado que estacionasse o carro na casa de veraneio, na Boca do Rio, que tinha acabado de comprar. Envolvidos com a viagem e com o clima do lugar, beijaram-se ali mesmo, pela primeira vez, e por 10 longos anos entre vindas e idas.

Maria da Vovó adorava comida baiana e banhar-se na praia do Porto da Barra. Não perdia uma festa de largo. Era do candomblé e eleitora, amiga de ACM o original é claro, por quem tinha um grande apreço e admiração a ele, e ao seu filho, Deputado Luis Eduardo Magalhães, (Dudu Brilhantina grande raparigueiro) um assíduo freqüentador de sua casa. Dizem que era dela o maior carurú da Bahia que fazia para Santa Bárbara, da qual era devota. Mandava preparar 200 kg de galinha e + de 15 mil quiabos, era sem sombra de dúvida, o maior caruru da cidade promovido pela cafetina. Além de comandar o melhor puteiro de salvador,

Foram dez anos de felicidade, entre 1965 e 1978. Um certo dia, doente de paixão, Maria descobriu que seu amor voltara para sua irmã, e tentou o primeiro suicídio, tomando ácido. Foi salva. Numa recaída, tentou o segundo, cortando a jugular com uma navalha. Na terceira tentativa de dar cabo à própria vida, outro corte na mesma região. Até que, às seis horas da manhã do dia 15 de outubro de 1978, ao saber que seu cunhado voltara definitivamente para casa, pulou do terraço do prédio onde morava, no Edifício Rosemar, no Campo da Pólvora.

Morria Maria da vovó aos 45 anos de idade. Sua Casa, o 26, ficou para as irmãs e depois para o cunhado, que tocou o negócio até fechar de vez o estabelecimento, no ano 2000.

De fato conheci a figura por volta dos anos 68/70 (Maria Inahim Toufic, não sei se o nome está escrito corretamente) foi minha vizinha no Campo da Pólvora no Edf. Rosemar, onde no térreo funcionava uma agência do Bradesco que ficava em  frente à Tebasa (Telefones da Bahia S/A,) e a uma agência de compra e venda de automóveis de Valter Maia,  que logo  depois se destacou como um grande corretor de imóveis, com escritório próximo ao Iguatemi em frente ao Detran.

Fomos vizinho moramos no mesmo prédio, O meu saudoso pai  era corretor de uma das maiores imobiliárias de salvador que tinha D. Maria da Vovó como uma grande cliente, pois ela  adquiriu muitos imóveis na referida imobiliária inclusive o aptº do Ed. Rosemar.

Naquela época ela já era considerada uma empresária bem sucedida e respeitada, Também conheci quase toda sua família, pessoas distintas,  pai, mãe, irmãos e cunhados, mais o seu grande amor mesmo era o  G...... justamente o marido de sua irmã, considerado protagonista desse  triângulo amoroso, conheci  também seu último amante, o Policial Astor, mulato alto tipo cabo verde, era um sujeito muito simpático, que na época era responsável pelo setor de objetos furtados na SSP na Piedade.

Foi aos 14 anos de idade que comecei a frequentar os puteiros de Salvador, sempre na boa companhia dos amigos com mais idade, alias a maioria dos meus amigos tinham uma diferença de 5 a 7 anos em relação a minha idade.

Frequentei muito o cabaré da Maria da Vovó na Gameleira, e o que ficava ali por detrás da rua do Cine Liceu, bem perto dali tinha outra casa maravilhosa com bonitas mulheres, era a boate Monte Carlo, a casa era muito boa tinha até pista de dança com  música ao vivo, foi lá que aprendi a dançar com as primas, lembro bem dos músicos Tabaréu saxfonista, Galo Cego, que tocava pandeiro e maracas,  Zé Batera (baterista) João da Matança e J. Rocha, grandes Guitarristas.

Conheci quase todos os “rendez-vous”  da cidade, casa  11 e casa 19  na gameleira, 73 de Dalva e 63 de China na ladeira da Montanha, Sayonara no comércio, Rumba Bar, Symara, Melancia, Pigalle, Holiday e outros menos famosos que no momento não me recordo o nome. Bons tempos!...

Ah!.. quantas recordações, só rolava bebidas alcoólicas, Rum Merino, Bacardi, carta branca e carta ouro, Cerveja Brahama, Antártica e Calsberg, Chop 70, Cuba libre, Whisky Old Eigth ou Drurys, Gim-tônica, hifi vodka com sukita,  Conhaque Dreher, rabo de galo (pinga com coca cola), Cachaça Jacaré e Saborosa da Crisanto Alban & Cia Ltda.

A maconha sempre esteve presente más em nível muito pequeno, as ruas do centro a noite eram tranquilas não existia assalto, era uma maravilha!...Principalmente para as pessoas como eu que quase sempre ao sair da casa da namorada por volta das 23 horas, depois daquele amasso e esfrega o que  no mínimo rolava era uma siririca por cima da calcinha as vezes rolava uma punhetinha muito insossa.

Aí eu encontrava com alguns e partíamos a todo vapor para fazer a via sacra nos puteiros. (via sacra fazer a visita em várias casas depois escolher em qual ficar), sempre nas sextas feiras tinha gente  nova e interessante no pedaço, mais era as veteranas que sempre abordava com aquela tradicional chavão “paga um drink para mim painho gostoso!”.

A bebida era sempre Cuba Libre rum montila com coca cola,  daí que ficou conhecida como bebida de Puta. Vamos fazer um amor gostoso? Então estava na hora da negociação, a gente pede a bebida e o papo rolava para acertar o preço do michê porque o quarto era pago por fora, naquela época o michê completo era muito dificil, poucas faziam, elas só queriam fazer mesmo era papai e mamãe, cuzinho nem pensar!...  Era uma encrenca da porra pedir pra comer o cú de uma kenga ! Tinha umas valentes que  quando o cabra insistia muito ela logo mandava o cara  se foder e pedir o cú da mãe,  as vezes depois de muita conversa rolava uma chupadinha  muito sem graça e sem gozar na boca.

“Maria da vovó foi uma das primeiras cafetinas que fomentou a pratica do michê completo criando a sua tabela de preços e obrigando todas suas meninas fazer tudo para agradar o cliente."

Saudades! Daquele ambiente à meia-luz, cheiro de fumaça de cigarro, perfume barato e bebida alcoólica, as casas que não apresentava música ao vivo  tinha uma vitrola automática na base de ficha tipo jukebox, tocava discos de Orlando Dias, Waldick Soriano, Carlos Alberto,  Silvinho, Claudia Barroso, Odair José, Adilson Ramos, Bienvenildo Granda , Lindomar Castilho, Lucho Gatica e muitos outros cantores de grande sucesso nos puteiros.

As (DST) doenças sexualmente transmissíveis sempre existiram mais nada de muito grave acontecia, a camisinha só era usada na maioria das vezes como contraceptivo, o que se pegava mesmo era a famosa blenorragia (o mesmo que gonorreia) e o “chato”, para quem não sabe, é um bichinho parasita da família do piolho de aparência chata, daí que veio o nome chato, ele fica agarrado nos pentelhos e coça muito rsrsr!, mais a bezetacil (penicilina) e o nelcid em pó sempre  resolvia  esses problemas, quando o caso era bem grave aí tinha mesmo  que cair nas mãos de um bom urologista, na minha epoca era o Prof. Dr. Italvar Rios, e os bem mais velhos era com o Dr. Bureau, ele mesmo o proprietário  da famosa casa navio na Pituba (só lembra quem já tem mais de 60).

Um fato interessante é que nos quartos dos puteiros não tinha banheiro, se o cliente tivesse que urinar ou fazer outra necessidade tinha que ser em um penico esmaltado que ficava debaixo da cama.

Depois da trepada o cliente segurava uma bacia de zinco ou esmaltada, colocava  entre as pernas e a dama da noite lavava todo o pau do freguês com litro de água fria que ficava no quarto, depois de enxugar o Bilau do cliente em seguida ela passava um pouco de leite de colônia, confesso que minha maior preocupação era com a toalha de enxugar cacête, porque a toalhinha tinha que ser igual as toalhas usadas em  barbearias  limpinhas, e uma para cada cliente, mesmo assim eu não confiava, usava sempre o meu lenço, daí essa mania que tenho até hoje de usar lenço.

Vale a pena ressaltar,  que todo quarto  de puta tinha  sempre uma penteadeira cheia de bibelôs  perfumes espanta negrinha, (perfume barato) sempre tinha a famosa água de colônia cachimir buquê para o freguês sair com com o bilau  bem cheirosinho, isso só era para os clientes solteiros, pois pra os casados e noivos perfume  era pura encrenca.

Eu saía do brega por volta das 02: hs da madrugada com muita fome, ia comer na praça Castro Alves em frente ao cine Guarani (Glauber Rocha) no caminhão do Zé, um Opel velho, onde rolava sempre uma  deliciosa feijoada, tinha também assado de boi, omelete de carne com farofa, galinha de ensopado e molho pardo, quase todos os pratos acompanhava feijão arroz, salada de tomate alface e cebola, gostava também de  comer o feijão da Mirinha  bem na porta do bilhar  do  Abel.

Quando estava no Sayonara no comércio, costumava frequentar o tabuleiro de Alaíde Conceição que ficava na Praça Cairú, parte baixa do Elevador Lacerda, que junto com sua mãe vendia feijoada, mocotó e rabada, gostaria também de lembrar que nas noites baiana os restaurantes Manon, Brazeiro, Lafontana ficavam abertos até altas horas.

Em outra oportunidade eu conto mais sobre, os puteiros baianos e muitos casos pitoresco da noite dos anos 60/70.

Um abraço

Autor: Tom

Reginaldo Rossi - A Raposa e as Uvas

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