Bloco OS CONDENADOS, Policiais Civis na Mudança do Garcia

Na final da década de noventa, surgiu na Mudança do Garcia o Bloco Carnavalesco "OS CONDENADOS". (Vide galeria de fotos)

Irreverente e crítico, o bloco foi uma iniciativa do SINDPOC,  entidade representativa dos policiais civis da Bahia que levava para as ruas e avenidas as mazelas da segurança pública. De forma bem humorada, com o uso de faixas, cartazes e carro de som e a carroça viatura, o sindicato protestava e denunciava a falta de segurança (já naquela época), bem como o descaso do governo do estado para com os profissionais da segurança pública da Bahia, valendo ressalvar que  os piores momentos, com ênfase para o aspecto salarial, recaiam sobre a era ACM e seus sucessores, quando até gratificações já estabilizadas eram excluídas do contracheque, para desespero da categoria, acarretando a imediata judicialização, cujos precatórios, embora garantidos por lei, demandam décadas para pagamento, sem falar na intermediação de espertos banqueiros juntos aos escritórios de advocacia. Era exatamente no desfile da Mudança do Garcia que Os Condenados não dava tréguas e informavam aos carnavalescos as maracutaias de então, via blocos, afoxés e trios elétricos.

Éramos tão contundentes e indesejados, que a barra só aliviava da saída do cortejo no final de linha do Garcia até as proximidades da entrada no Circuito do Carnaval no Campo Grande; governadores e prefeitos da situação, obrigavam os policiais civis a uma tentativa de confronto com os policiais militares, o que não acontecia porque os colegas policiais militares faziam de conta que cumpriam as ordens superiores, mas na realidade, ainda que fardados, sabiam que nossas iniciativas eram em prol de todos, na luta por melhores salários e condições de trabalho.

Parte da imprensa mercenária desligava suas câmeras, mas de nada adiantava, porque a multidão respaldava e participava entusiasticamente das ordeiras manifestações. Por um bom tempo arrastamos milhares de servidores públicos estaduais da Educação, Saúde com nossas frases picantes nos cartazes, todos também condenados pelos governos traíras.

Cumpre relembrar uma diligência que culminou numa perseguição a um suposto assaltante que terminou alvejado com um tiro no pulmão. Em entrevista concedida a um repórter sobre o fato, o delegado saiu com essa, dizendo que o tiro foi direcionado ao pneu do veículo em perseguição. O Sindpoc da época, sem perda de tempo, confeccionou uma faixa com os seguintes dizeres: "É o cúmulo da pontaria numa perseguição, atirar no pneu e acertar no pulmão". As gargalhadas eram ouvidas por todos os lados.

Encerrávamos nossa participação na Mudança na praça da Piedade onde os policiais civis e demais servidores ficavam à espera da VIATURA  dos Condenados – uma carroça caracterizada como viatura policial e puxada por um burro travestido de X-9.  Enfim, era o nosso verdadeiro Sindpoc, maior trincheira de luta da categoria policial civil, sempre presente na segunda-feira gorda do Carnaval, juntos à Mudança do García.

Bons tempos do sindicalismo policial raiz, quando éramos de fato independentes, sem qualquer atrelamento ao governo, sem conchavos, longe da pelegagem que passou a ser o lugar comum da maioria das entidades sindicais, onde não mais são defendidos os interesses coletivos e sim particulares.

A luta encarniçada é por cargos, promoções, extras e nada mais.

Como surgiu a Mudança do Garcia?

Há 80 anos saindo pelas ruas da capital da Bahia, na segunda-feira de Carnaval, o bloco Mudança do Garcia fazia protestos em forma de folia.

Mudança do Garcia é uma manifestação popular que sai todos os anos na segunda-feira de Carnaval, no bairro do Garcia. Apesar de ter um forte traço crítico, principalmente relacionado à política, a Mudança começou como uma grande brincadeira, como conta Lourival Filho. Quando uma prostituta moradora do subúrbio, por pressão e preconceito da população, muda-se para a Federação. Logo o acontecimento virou notícia e no ano seguinte, saíram as carroças com instrumentos de sopro e percussão como protesto; “começou a brincadeira”. A brincadeira e a gozação com o ocorrido passaram a criar um espaço de crítica e diversão.

A diversidade é marca registrada da Mudança. Os idosos participam junto com adultos e crianças, tanto do Garcia, como de outros bairros de Salvador. Não existe restrição alguma; todas as classes sociais são incluídas no desfile que concentra mais de cem mil pessoas durante o trajeto.

Participe na próxima Mudança, você vai gostar.  GALERIA DE FOTOS