Pegando um gancho no excelente artigo publicado recentemente - Em busca de Anselmo -, de autoria do professor Carlos Zacarias de Sena Junior, historiador por excelência, faço uma viagem ao passado cinzento da repressão, marcado pela violência extrema, prisões imotivadas, torturas e assassinatos, práticas que perduram até hoje, encaixando como uma luva na excrescência presidencial fardada que insiste em permanecer no poder, modus operandi que será certamente empregado até as próximas eleições, graças à conivência da corrupção política crônica, força motriz contribuinte para a total destruição do Brasil.
Sempre participei ativamente das manifestações estudantis após o golpe mentiroso daquele fatídico 1° de abril, época em que os cabos Anselmos da vida infestavam as escolas e universidades, infiltrados despudoradamente pelo sistema como falsos esquerdistas, contando com a ajuda criminosa da velha CIA, onde são forjados elementos deletérios que sempre rezaram na cartilha do lucro fácil, ressalvando-se que muitos terminam esquecidos, desempregados, no completo ostracismo após os desserviços prestados. Naquela época, as escolas e faculdades mais visadas, como Direito, Filosofia, Sociologia, dentre outras, possuíam um cabo Anselmo em cada sala, em sua maioria de procedência suspeita, fruto de transferências nada transparentes, e com um detalhe que saltava aos olhos em razão dos trajes que usavam - terno ou paletó -, típicos dos dedos-duros. Cabo Anselmo, falecido como José Anselmo dos Santos, teve registrado na lápide Alexandre da Silva Montenegro.
Depreende-se disso tudo que as leis brasileiras podem ser perfeitas, mas sua aplicabilidade continua imutável, navegando de acordo com a conveniência do big boss. Errou feio o então embaixador Juracy Magalhães ao afirmar: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil". Deixou claro que o entreguismo sempre foi a política adotada pela direita servil e reacionária brasileira, tendo o apoio irrestrito dos militares e empresariado em geral, pouco importando a preservação da nossa soberania. Que o mês de outubro venha disposto a limpar a podridão institucional que se instalou no Brasil, renovando a corrompida classe política e proporcionando a Lula condições plenas de governabilidade. O Brasil é grande demais e merece respeito. Não pode ser governado por gente sanguinária, despreparada, aventureira e sem qualquer compromisso com a população, principalmente os mais carentes, desprovidos das mínimas condições de sobrevivência.
É inaceitável que numa terra em que se plantando tudo dá, ainda se morra de fome. Tudo de ruim aconteceu no governo do genocida, não houve exceção. Os serviços essenciais - todos - ficaram a ver navios, sendo a saúde a mais atingida. Que o diga a CPI da Covid, um escândalo que ficará registrado nos anais da corrupção política nacional.
Encerro com dois questionamentos: 1 - Como pode um militar expulso do exército há 34 anos ter sido candidato a cargo eletivo e se reeleger por 30 anos consecutivos sem que um único projeto de lei de sua autoria tramitasse no período, chegando à presidência da República?;
2 - Será que algum militar da alta patente poderia justificar a brutal inversão de valores por dever obediência a um capitão com antecedentes pouco recomendáveis?. Deduz-se, sem muito esforço, que os cabos Anselmos da vida continuam espalhados Brasil afora, na eterna e infrutífera caça aos defensores intransigentes do bem comum, coisa que o capitalismo selvagem abomina.
Se cabo Anselmo soubesse que a ideologia não morre nunca, por ser um sentimento que brota na alma de quem se preocupa com seu semelhante, dificilmente aceitaria empreitadas macabras.
Jorge Braga Barretto
Contato: jbbarretto@gmail.com
(*) Publicado no Jornal A Tarde, (Espaço do Leitor), edição de 11.06.2022